Keblinger

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20 de fev. de 2013

Amor

Diretor e roteirista de obras incisivas, Michael Haneke, é um dos poucos cineastas da atualidade que respeita, instiga e provoca o espectador. Não esperar algo de fácil assimilação é um requisito fundamental para a apreciação de uma filmografia marcante. Desde A Professora de Piano, passando por Cachè e A Fita Branca e com o mais recente, Amor, a inquietação começa com a expectativa apropriada acerca do conteúdo e forma do que se pode vir a ser desenvolvido.

A proximidade do fim da vida é um tema que remete a reflexões profundas. Surgem inúmeras lembranças. De atos, gestos e convivência. A vida de um casal octagenário e solitário, Georges (Jean-Louis Trintingant) e Anne (Emmanuelle Riva), tem a rotina brutalmente alterada com o acidente isquêmico dela, deixando-a limitada para as ações cotidianas e dependendo do marido para executá-las. Dificuldades que são apenas testemunhadas esporadicamente pelas visitas da filha (Isabelle Huppert). A degeneração é progressiva e irreversível, despertando emoções e sentimentos que colocam à prova os limites do amor entre o casal, além da capacidade humana de suportar a adversidade e a dor.

Haneke é implacável na condução do drama instalado e sobretudo na representação da dignidade humana. Como dar a ela a importância que tem? A resposta está no total domínio do espaço e tempo retratados em cena, E colocando os talentos da dupla espetacularmente disponíveis para o completo objetivo traçado se configurar na prática. Colocando, desta forma para a plateia, um possível espelho, sem maquiagens ou mascáras insuficientes, de uma situação muito inquetante. O incômodo se faz presente. Suportável, pelo maior dos sentimentos. Porém, ambos podem ser finitos ou mutáveis, levando a atitudes duras de aceitar. A câmera de Haneke, então, passeia pelo ambiente do lar de Anne e Georges para salientar o que fica e o que se tranforma.

O tempo se transfigura em lembranças expostas nas paredes, no piano utilizado profissionalmente e agora quase como uma relíquia; nos álbuns de fotografia; nos relatos do esposo para a amada. Um tempo que não volta. Modificou-se. Está agora apenas na memória, para quem sabe, aplacar o sofrmento do presente.

Riva, a veteraníssima francesa que despontou com Hiroshima, Meu Amor, de Resnais, hipnotiza, encanta, choca e demonstra a técnica superlativa de uma impecável atriz. Uma interpretação sem ressalvas negativas, digna ao propósito de afastar qualquer indiferença do espectador para o drama retratado e à capacidade incrível de uma atriz plenamente talentosa. Olhares, gestuais, entonações. Todos irrepreensíveis. O magistral Trintingnant (Um Homem, Uma Mulher, Z e A Fraternidade é Vermelha), saiu de uma "aposentadoria" para nos privilegiar com um talento que sempre se sobressai, abraçando um personagem tão complexo, realista, com qualidades de atuação intensas e precisas. 

Exemplos de atuações inesquecíveis, uma direção estupenda de Haneke e mais uma  prova do valor do cinema como uma manifestação artística que extrai de talentos humanos o melhor para a reflexão da vida!!

Direção e Roteiro: Michael Haneke
Duração  125 minutos
Gênero: Drama
Nome Original: Amour
País: Áustria / França
Ano: 2012

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