Quando D. W. Griffith revolucionou a utilização da edição no cinema em Intolerância, em 1916, o paralelismo narrativo apenas se tornava palatável com a habilidade em sincronizar as quatro estórias desenvolvidas na obra clássica dele, influenciando para sempre uma leva de realizadores que vislumbram uma sofisticação narrativa. O cinema em processo de evolução e de afirmação como arte.
Ao assistir A Viagem, dos irmãos Lana e Andy Wachowski (trilogia Matrix), dividindo a direção com o alemão Tom Tykwer (Corra Lola, Corra!, Perfume e Trama Internacional), a importância de um encadeamento de imagens realizado com esmero ganha uma dimensão vital para a compreensão de uma intrincada teia de estórias, permeada com um teor filosófico poderoso, capaz de provocar uma catarse na mesma medida e possível, graças ao conjunto de ferramentas tão bem conjugadas na adaptação do livro Cloud Atlas, de David Mitchell (ainda sem tradução para o mercado literário nacional).
A narrativa acompanha seis estórias que vão e voltam no tempo, com personagens que
se cruzam, seja pela similaridade de situações, física ou principalmente, comportamental, desde o século 19 até um futuro pós-apocalíptico, incluindo ainda a época atual, passando por um simples viajante no Oceano Pacífico em 1850 a
uma jornalista durante os conturbados anos 1970. Em comum, há a busca de mudança de rumo, de rompimento de convenções. Uma multiplicidade de tipos desfila sob as bençãos de um elenco extremamente competente, liderado por Tom Hanks, Halle Berry, Jim Broadbent, Hugo Weaving, Doona Bae, Jim Sturgess e Ben Winshaw.
A aparente complexidade em interligar as seis narrativas vai sendo descortinada progressivamente. O espectador precisa apenas captar a essência delas, de fácil assimilação, para desfrutar uma bela odisseia filosófica sobre a vida, sobre a liberdade, a espiritualidade, o amor, a realidade e como somos tão únicos na manifestação dos sentimentos frente a um universo infinito. Uma ótima tática para gerar esta percepção foi utilizar os mesmos atores para interpretar diversos personagens e em épocas diferentes. Um trabalho de maquiagem hercúleo foi empreendodo, transformando até bem radicalmente alguns deles em aparência, perceptíveis em um olhar mais atento. Porém, o relevante era interligá-los e voltamos, assim, ao papel fundamental da edição.
É nela em os elos se fecham. Complementam-se informações. Aonde o ritmo se delinea e algumas sequências beiram à perfeição, aliando harmonicamente, imagem, som e efeitos sonoros, a inspirada trilha sonora de autoria de Tom Tykwer, Johnny Klimek & Reinhold Heil, além de situações similares entre as seis narrativas. A complementariedade fica cristalina e o que se denominava como sendo "confuso", torna-se poesia, emoção e uma ode à vida, como uma composição artistica que atravessa o tempo e se torna motivo para questinamentos e reflexões.
Não há como absorver tantas questôes levantadas pelo filme em apenas um contato. A necessidade de revê-lo se firma e é indicada. Como as obras instigantes e inteligentes nos levam, quando o cinema é utilizado para provocar a inquietação nos espectadores.
Não há como absorver tantas questôes levantadas pelo filme em apenas um contato. A necessidade de revê-lo se firma e é indicada. Como as obras instigantes e inteligentes nos levam, quando o cinema é utilizado para provocar a inquietação nos espectadores.
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Direção e Roteiro: Andy Wachowski, Lana Wachowski, Tom TykwerDuração 172 minutos
Gênero: Drama / Fantasia / Ficção científica
Nome Original: Cloud Atlas
País: EUA / Alemanha
Ano: 2012
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