Há 11 anos, J R R Tolkien passou a fazer parte efetivamente da magia do
cinema sob as bençãos de Peter Jackson. Foi realizada a transposição para a
Sétima Arte de um dos clássicos da literatura, com tanto esmero,
competência e sucesso, deixando órfãos uma legião de fãs do escritor, dos personagens
cativantes representados em tela grande e de um mundo fantástico encontrado na Terra Média. Em 2003, com O
Retorno do Rei e 11 Oscars consagradores, foi dada por encerrada a jornada de
Frodo, Gandalf e companhia.
Havia a esperança, com o êxito enorme alcançado, que as outras obras de
Tolkien, ganhassem a tela grande. A espera chegou ao fim com O Hobbit, também
dividido em três partes( Uma Jornada Inesperada, A Desolação de Smaug e Lá e De Volta Outra Vez) e com uma expectativa atè maior, pelo resultado
maravilhoso de O Senhor dos Anéis e com os avanços tecnológicos que o retorno à
Terra-média traria. Peter Jackson, teoricamente, teria um trabalho facilitado,
por se tratar de uma obra menos extensa, mais concisa e com os apêndices de O Retorno do Rei para
enxertar os possíveis vazios que poderiam surgir pela amplitude do projeto.
Inicialmente, seriam dois exemplares. Contudo, com a animação dos executivos da
Warner após as primeiras impressões do trabalho realizado, o sinal verde para
um terceiro filme foi dado. Satisfação e mais trabalho para Jackson e equipe
(??), excitação para os fãs (!!), mais responsabilidades e expectatiivas nas
alturas. No meio do caminho, ainda surge um tal de 48 frames por segundo. Haja
tensão. Ansiedade. Expectativa.
O primeiro, Uma Jornada Inesperada, cuja estória ocorre 60 anos antes dos
acontecimentos retratados em O Senhor dos Anéis, inicia as aventuras do jovem Bilbo
Bolseiro (Martin Freeman) para tentar reconquistar o reino Erebor, tomado pelo
dragão Smaug, deixando os anões, os reais herdeiros, órfãos da terra natal.
Recrutado por Gandalf (Ian McKellen), Bilbo e mais 13 anões, enfrentam os mais
diversos perigos, aventura e momentos de aprendizagem, pondo à prova a união e a coragem
da comitiva liderada por Thorin Escudo de Carvalho (Richard Armitage).
A perfeição narrativa está longe de ser atingida em O Hobbit. Existem
momentos de uma carência de ritmo mais cinematográifico, de apego aos novos personagens, frente aos já
conhecidos da trilogia do anel. Ficamos na expectativa deles aparecerem para o
interesse ser retomado. Bilbo é carismático, tem um potencial a ser explorado nesta nova saga.
Até isso ser completamente desenvolvido... Gandalf e companhia seguram as pontas e os fãs se mantém
entretidos. Embalados, inclusive, pela trilha de Howard Shore, o mesmo de
Senhor...
Fica clara a intenção de Jackson de explicitar a relação de dependência
entre as obras de Tolkien. Gandalf é fundamental. Durante a jornada,
vários outros personagens reaparecem.
São participações bem inseridas, orgânicas à narrativa, criando com espectadores,
uma identificação confortável. Satisfação instantânea, Galadriel (Cate
Blanchett), Elrond (Hugo Weaving), Saruman (Christopher Lee) e Frodo (Elijah Wood), ressurgem para
contribuir com a empatia da plateia e para o andamento da trama. Porém, destes,
é Gollum (Andy Serkis) que possui a mais significativa parcela de esmero e
apelo. Jackson foi de uma precisão imensa nos diálogos e
"advinhações" entre o detentor do "precioso" e Bilbo, Ainda
é plasticamente espantosa a sequência pela qualidade técnica, estendida ainda
para efeitos visuais bem desenvolvidos e o som cristalino.
Orcs, trolls e demais criaturas
ganham credibilidade na modelagem apresentada, competentes, dando formas às descrições
literárias conhecidas. O 3D é bom, revelando alguma profundidade quando
exigido, mas não magnificamente e longe, realmente de produções que o utilizam exemplarmente.
De forma exitosa, os 48 frames por segundo, proporciona sim, uma grande
diferença. Para melhor.
Mesmo que a nova tecnologia possa causar certa estranheza pelo espantoso
grau de definição, com praticamente zero de granulação das imagens, típica da
película tradicional, a riqueza de detalhes revelada é enorme, fascinante, conquistando o espectador até o fim da projeção.
Permite uma proximidade maior com a fotografia empregada, maior percepção cenográfica e até o 3D apresenta
um ganho. Não funciona perfeitamente em toda a metragem do filme. Mas, é
superior ao formato 24 fps. O costume com o novo formato requer tempo e
ajustes, que alcançados, podem marcar um passo firme em direção a um cinema mais
próximo de uma imagem real, uma janela aberta em uma sala de exibição.
Pode-se, então, analisar este Uma Jornada Inesperada sob o aspecto
saudosista de quem reencontra amigos, rumo a uma nova, segura e aguardada
aventura, envolta por uma novidade tecnológica, mesmo sabendo que o grau de satisfação
pode não ser o mesmo do antes alcançado em O Senhor dos Anéis, E daí? Perguntam
os ávidos por voltar à Terra-média. Ou se aplica o rigor de apreciadores de uma
obra comprometida com o cinema e a literatura, casadas com o intuito de
oferecer um filme de qualidade inquestionável, que procuram o mínimo desfalque
para desmerecer o conjunto da adaptação do universo de Tolkien por Peter
Jackson. Podemos ainda ter uma mistura
destas perspectivas, pois cinema é afetividade, emoção, satisfação. Não apenas
um pretenso olhar objetivo, técnico e racionalista.
Ano que vem, com A Desolação de Smaug, a aventura continua. E emoção e razão, também.
Roteiro: Peter Jackson, Fran Walsh, Philippa Boyens, Guillermo del Toro
Duração: 169 minutos
Gênero: Fantasia
Nome Original: The Hobbit - An Unexpected Journey
País: Nova Zelândia / EUA
Ano: 2012
1 comentários:
Excelente crítica!
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