Argo recria um episódio dramático da relação política dos Estados Unidos com os psíses do Oriente Médio, nada marcada pelo pacifismo. O interesse econômico na energia fornecida pelo petróleo, além do extremismo religioso e o intervencionismo na vida política local, conjugados, transformaram a região em um barril de pólvora. O Irã e o Iraque são os que mais conflitos tiveram ou têm com os norte-americanos.
Um dos incidentes de maior proporção internacional ocorreu em outubro de 1979, início da era do Aiatolá Khomeini. Os iranianos, furiosos, invadiram a embaixada ianque em Teerã, exigindo a extradição do antigo Xá apoiado pelos EUA. Os funcionários, são feitos reféns. Apenas seis deles, conseguem escapar. O clima de caça aos inimigos do governo do irâ só se intensifica, fazendo ser mais que urgente resgatar os cidadãos norte-americanos que conseguiram se abrigar na embaixada canadense.
A CIA é acionada, na figura de Jack O'Donnell
(o talentoso Bryan Cranston), recrutando o agente Tony Mendez (Ben Affleck) para comandar a missão. Após estudar alternativas para viabilizar o resgate, todas muito perigosas e praticamente impossíveis de realizá-las, Tony propõe algo mais insólito e prigoso: forjar a produção de uma ficção científica hollywoodiana em locações iranianas, incluindo os tais fugitivos como membros da equipe de filmagem e, assim os retirar do local aonde se refugiarm, em segurança. Missão quase impossivel. Que precisa da ajuda de gente do meio cinematográfico, como o maquiador John Chambers (John Goodman) e o produtor Lester Siegel (Alan Arkin), para dar veracidade ao plano. Mendez, alçado ao posto de "manager"segue, então para a aplicação do plano.
Esta mescla de trailer político com os bastidores de uma produção cinematográfica é dirigida com imenso talento por Affleck. Prova da maturidade alcançada, depois dos muito bons Medo da Verdade e Atração Perigosa. Ambicioso, o diretor consegue impor uma tensão explosiva em vários momentos, criando sequências ilustrativas do cenário paranoico da época, Os roteirista Chris Terrio e Joshuah Bearman, evidentemente, souberam adaptar os fatos reais à um ou outro alívio cômico, resultante do "absurdo" da solução encontrada para a libertação dos funcionários. Assim, o trabalho de Affleck foi compor as sequências de modo a combinar a química realidade x realidade ficcionada. inteligentemente. O resultado é brilhante, pois alia informação, entretenimento e com habilidades técnicas exatas para provar a eficiência de um bom roteiro. Reinterpretação cinematográfica com R bem maiúsculo, no melhor sentido.
Há a opção pela classe, sem atropelos, sem irracionalidade narrativa. Teme-se demais em filmes com alta voltagem política, o terreno comum em contrapor visões poíticas antagônicas, posicionando-as em um maniqueísmo exacerbado nada produtivo. Em Argo, isso é evitado. Acima disto, está o empenho em cumprir a tarefa profissional, em mostrar que aquelas vidas salvas são essenciais, pelo ponto de vista do agente Mendez. Pelo viés iraniano, é mostrado o fundamentalismo ideológico, resvalando na política e nas relações internacionais, sacrificando a liberdade de inocentes civis e de cidadãos estrangeiros. Já a política norte-americana apresenta o teor intervencionista, invasivo, ultracapitalista, que mais do que salvar as vidas de seus nativos, está preocupada na imagem no cenário internacional com o episódio e futuros prejuízos para os campos econômicos e politicos. Incluiu-se na receita , às referências e alfinetadas à Hollywood subserviente aos ditames oficiais, prestando serviço, com fins políticos.
Costurar estas intenções postas em Argo, sem prejudicá-las, adicionando o humor, a tensão empolgante necessária, gerando um entretenimento bastante atrativo, é para poucos. Pois, conteúdo e forma se completam, rememorando os clássicos filmes do gênero dos anos 1970, quando Hollywwod abria espaço para o cinema engajado, revestido pelo talento de realizadores e pela técnica apurada. Que de certa forma, foi abandonado pelos blockbusters feitos após Star Wars, vital para a afirmação para a indústria do entretenimento cinematográfica. Metacinema esperto.
Retratar esta transição não foi à toa, também, para salientar a importância do cinema nas discussões de questões políticas, mesmo, sendo hoje, um meio de diversão, por excelência!!!
Direção:
Ben Affleck
Roteiro: Chris Terrio, Joshuah Bearman
Duração: 120 min.
Gênero: Drama /
Suspense
Nome Original: Argo
País: EUA,
Ano: 2012
0 comentários:
Postar um comentário